Somos todos complexos já repararam? Não que isso seja ruim, não o é de modo algum. Isso faz parte dos seres humanos e de sua constituição, de todos nós.
Tudo aquilo que vivenciamos guardamos de alguma maneira. Transformamos em experiências, em memórias, conscientes ou não, boas ou não, com ou sem sofrimento ou angústia.
O fato é que nem sempre nos damos conta de que existem movimentos que nos atravessam. Eles podem ser intrapsíquicos, individuais, que ocorrem dentro de nossa mente, e derivam de nossa subjetividade; podem ser intersubjetivos, que ocorrem entre um ou mais sujeitos; e ainda transpsíquicos quando o grupo, a cultura e a dimensão social nos atravessam. Todos esses movimentos nos constituem e falam através de nossos pensamentos, sentimentos e ações.
Vocês já pararam para pensar que tudo o que aprendemos durante a infância alguém nos ensinou? Grande parte de nossos valores, da noção do certo e errado, do feio e do bonito, do bom e ruim, como falar, como se portar socialmente, como se relacionar foi aprendido.
Além dos nossos, os pensamentos, desejos, faltas, excessos e a história de nossos pais, familiares e grupos sociais precedem nossa história.
Quando alguém vem ao mundo já vem inserido em um lugar, uma posição que não pôde escolher.
Essa posição é prontamente ocupada pois o ser humano demora a se desenvolve, é dependente e precisa do outro para se constituir, para pertencer e para sobreviver.
Dessa forma, tudo o que os antepassados de nossas histórias viveram, aprenderam, sentiram, experimentaram nos é entregue como uma herança, que não podemos, e nem temos cognição para tal, recusar. A herança psíquica é nossa senhora e a ela servimos prontamente por muitos anos. Como lidamos com isso? O que sentimos? Pensamos?
Vejam que dilema: Precisamos nos tornar indivíduos frente a nossa família e nossa sociedade, viver nossas necessidades e bancar nossos desejos, porém, somos seres sociais que dependem e que vislumbram a pertença e dessa forma precisamos nos submeter a regras sociais. Qual o acordo que fazemos conosco?
Será então que podemos dizer que somos? O que é nosso em nossa história e o que nos foi entregue? Vivemos alienados de nós mesmos uma vez inseridos e pertencentes a uma sociedade, uma cultura, um contexto histórico, econômico e social? Que arranjos fizemos para sobreviver? Como nos defendemos? Quanto de energia colocamos em coisas que muitas vezes nos machucam e derivam de incontáveis repetições? E por que fazemos isso?
Perguntas difíceis…
A análise pessoal é uma jornada rumo a nós mesmos. Nela olhamos para a nossa história ressignificando os passos. Isso significa refletir sobre o que sentimos, experienciamos, herdamos, sobre o que não conseguimos nomear, sobre o que apartamos de nossas consciências, sobre o modo que nos colocamos nas relações, sobre as nossas escolhas.
Dizer EU SOU requer longa investigação de si, caso contrário os outros sempre serão através de nós.
Não pensem que é fácil olhar para nossos medos, nossas angústias, traumas. Tampouco o é olhar para aquilo que não gostamos em nós. Mas querem saber? Também não é assim tão difícil. Em uma análise não se está só. Revisitamos memórias acolhidos em um lugar seguro, em nosso próprio tempo, com alguém que nos acompanha. Descobrimos sentimentos estranhos, lados sombrios, mas encontramos também o melhor de nós, nossas belezas, nossa vulnerabilidade e nossa força.
É restaurador, transformador, libertador.
O que se ganha ao final? Ganhamos a nós mesmos. Com tudo o que há no pacote.
Aprendemos a nos responsabilizar por nossas escolhas e nossos caminhos apesar do que foi e do que é. Aprendemos a bancar nossos desejos e a suportá-los, nos livramos da dependência do olhar do outro e de suas demandas. Deixamos de pagar o alto preço que nos impõe a necessidade da presença alheia. Deixamos de acreditar no delírio de que alguém nos completará e nos tornamos seres que buscam atender às suas próprias demandas. Abandonamos o hábito de ser o que falta para o outro e de buscar o que falta em nós no outro. Nos organizamos internamente muitas vezes e aprendemos sobre aquilo que nos desorganiza. Aprendemos até que está tudo bem estamos bagunçados vez ou outra na vida.
Parimos novamente a nós.
Isso é análise. Esse é o processo. Analisar é separar as partes de um todo e estudar os seus pormenores, incluí-los, nomeá-los, dar a eles um novo sentido. O nosso sentido.
Se vale a pena fazer análise?
Experimentem, escutem a vocês e depois me respondam…